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01 November 2022

Woman holding Earth as a balloon

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As mulheres precisam ser integradas ao debate climático  

A ONU estima que 67% dos cargos de tomada de decisão sobre o clima em todo o mundo são ocupados por homens. Essa porcentagem precisa mudar.  

As mulheres devem fazer parte da tomada de decisões em relação ao clima porque são afetadas de forma desigual pelas alterações climáticas. Nossa preocupação geral em relação aos cargos de liderança das mulheres é por uma razão muito boa: o Fórum Econômico Mundial indicou que a pandemia retrocedeu a representação de mulheres em cargos de liderança em 68%.

A Diretora de Sustentabilidade da WPP, Hannah Harrison, define o cenário: “Principalmente nos países do Sul Global, há uma responsabilidade distinta sobre meninas e mulheres para garantir comida, encontrar água e lenha, e cuidar de jovens e idosos. Já podemos observar que em todo episódio de onda de calor, seca, tempestade ou inundação severas, são as meninas e as mulheres que mais sofrem.”

Os desastres naturais significam que as mulheres têm que ir mais longe para garantir o fornecimento de alimentos e água potável escassos, e às vezes precisam ficar para trás durante as evacuações relacionadas ao clima para cuidar dos vulneráveis — porém, são nesses momentos que as mulheres reúnem seus valiosos conhecimentos.

“As funções de cuidadora e provedora das mulheres dão a elas um entendimento bastante profundo sobre como as mudanças climáticas estão impactando a comunidade delas”, diz Harrison. “No Sul Global, as mulheres também têm um conhecimento extremamente amplo de seu ambiente e recursos naturais. Elas têm esse conhecimento excepcional, mas muitas vezes não são as pessoas que tomam as decisões.”

Quando as mulheres são sub-representadas na definição de soluções relacionadas ao clima, estamos possivelmente excluindo pessoas com os conhecimentos necessários para mitigar e fazer as adaptações às mudanças climáticas.

Vamos pensar local e globalmente

“As mulheres estão, em muitos casos, mais preparadas para identificar e implementar soluções para mitigar e fazer as adaptações às mudanças climáticas”, diz Harrison. E por que elas não ocupam esses cargos em uma escala maior? A resposta à essa pergunta requer certo entendimento sobre as questões estruturais.

“De acordo com a OCDE, apenas 3% da ajuda para lidar com as mudanças climáticas é direcionada à igualdade de gênero. Além disso, a coalizão de Ação Feminista pela Justiça Climática (convocada pela ONU Mulheres) descobriu que apenas 3% do financiamento filantrópico ambiental apoia o ativismo ambiental de meninas e mulheres ”, diz Harrison. “E não devemos esquecer que a maioria das empresas lideradas por mulheres que estão tentando combater as mudanças climáticas são muito pequenas, e muitas vezes têm dificuldade de acesso aos provedores de financiamento climático, porque geralmente alguns desses grandes fundos investem em projetos de grande escala que proporcionam escala e impacto.”

Por um lado, as mulheres não são apoiadas o suficiente pelos meios filantrópicos para se tornarem ativistas neste espaço, e por isso carecem dos meios para ampliar seus argumentos. Em contrapartida, o financiamento de projetos geralmente vai para as grandes organizações, e o acesso a ele requer influência organizacional, construções de negócios e pensamento de grupo. — tudo isso são elementos que faltam às mulheres impactadas pelas mudanças climáticas em suas regiões.

"É uma emergência, certo?", diz Harrison, referindo-se aos grandes potes de financiamento verde que surgem dos investidores. “Precisamos agir e ampliar, mas também me pergunto se as pessoas que lidam com a crise climática não deveriam repensar um pouco nossas atitudes e buscar soluções com o maior impacto, que nem sempre significa apoiar a marca mais cara”, acrescenta.

Portanto, como financiamos as ideias vindas dessas mulheres concentradas na comunidade que têm um conhecimento prático profundo sobre as interações complexas entre biodiversidade, clima, comunidade e política socioeconômica? Como acessar esses pequenos projetos locais?

Precisamos de iniciativas que reconheçam que as soluções podem, ao mesmo tempo, ser tanto locais como globais, e que principalmente no caso de soluções locais, estas devem incluir todas as vozes, independentemente do gênero ou da etnia. A Project Drawdown, diz Harrison, é um exemplo. É uma organização sem fins lucrativos que busca ajudar o mundo a alcançar a "redução", ou seja, que os níveis de gases de efeito estufa na atmosfera parem de subir e comecem a diminuir. Eles reconhecem que as soluções climáticas são tanto locais como globais e que a transição para uma energia limpa proporciona oportunidades de educação e emprego para as comunidades em todos os locais.

“Um dos primeiros grandes projetos que a Project Drawdown identificou que promove a maior diferença é sobre saúde e educação, especificamente de meninas”, destaca Harrison. "Eles identificaram que o equivalente a 85,42 gigatoneladas de CO2 poderia ser reduzido ou sequestrado entre 2020 e 2050, educando as mulheres.”

Por quê? Porque as mulheres estão na linha de frente. Essa ação pode ser menos óbvia para os decisores e financiadores do que para os ativistas e os próprios membros da comunidade, e é por isso que precisamos pensar em ambos os extremos e em todo o resto.

A indústria criativa tem um papel a desempenhar

“Como profissionais de criação, comunicação e marketing, temos sem dúvida alguma um papel a desempenhar no avanço de uma pauta climática equilibrada em termos de gênero”, diz Harrison. “Estamos em uma posição extremamente privilegiada como setor por causa de nossa criatividade, nossa capacidade de juntar as pessoas, e por estarmos no centro de tantas questões que afetam a sociedade. Marketing tem tudo a ver com mudança de opinião e comportamento. E podemos fazer isso em grande escala.”

É disso que precisamos aqui. “Podemos ajudar a reduzir as desigualdades entre valor e ação. Podemos tornar os estilos de vida sustentáveis e mais equitativos atraentes e, com sorte, mais comuns", diz ela.

Harrison ressalta que podemos aprender as lições da pandemia. Ela nos ensinou o impacto de localizar mensagens consistentes para conduzir ações consistentes: lavar as mãos, manter o distanciamento social e assim por diante. Mas a pandemia também arrastou 47 milhões de mulheres para a pobreza extrema, de acordo com a ONU Mulheres.

A falta de vacinas e financiamento para os países do Sul Global impediu muitos representantes e ativistas de participar das negociações da COP26. “Mais uma vez, as pessoas que estão na linha de frente, que são mais afetadas por isso, não tinham um lugar à mesa”, diz Harrison.

“Essas são as pessoas que já estão tendo que se adaptar às mudanças climáticas, muitas vezes com recursos limitados. Ou cujas tradições antigas e enraizadas e o conhecimento inestimável de como seus ecossistemas funcionam estão sob ameaça da migração rural para a urbana e da perseguição ou discriminação. Não devemos ignorar esse conhecimento. Devemos protegê-lo e, por extensão, salvaguardar locais ricos em biodiversidade. São locais que muitas pessoas chamam de lar.”

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